Mama África

Militante do movimento negro, Miriam Makeba foi perseguida em seu país natal e mesmo nos Estados Unidos, país que se considerava o

Militante do movimento negro, Miriam Makeba foi perseguida em seu país natal e mesmo nos Estados Unidos, país que se considerava o “defensor da democracia”

Miriam Makeba já era bastante conhecida na África da década de 50. Apesar de vender muitos discos a cantora mal conseguia se sustentar, situação comum em um país africano onde uma minoria de descendentes de europeus extremamente racistas governavam.

Este governo racista se iniciou em 1948, na África do Sul. O regime ficou conhecido como Apartheid e separava os habitantes do país por “grupos raciais”. Dentro dessa separação, aos descendentes de europeus ficavam reservados os melhores transportes, hospitais, escolas, enquanto os africanos eram isolados em guetos sem acesso ao mínimo que um ser humano precisa para sobreviver com dignidade. O objetivo dos afrikâners (descendentes de europeus) era o de preservar a “raça branca e européia”, argumentos bastante próximos daqueles usados pelo Partido Nazista na Alemanha, uma década antes, para perseguir judeus, ciganos, eslavos e poloneses.

O manifesto eleitoral do Partido Nacional (o Partido do apartheid) trazia a seguinte afirmação:

“A política da segregação racial se baseia nos princípios cristãos do que é justo e razoável. Seu objetivo é a manutenção e a proteção da população europeia do país como uma raça branca pura e a manutenção e a proteção dos grupos raciais

“Essa área de banho é reservada para uso exclusivo de membros do grupo da raça branca.” Placa em Durban, 1989

indígenas como comunidades separadas em suas próprias áreas (…) Ou seguimos o curso da igualdade, o que no final significará o suicídio da raça branca ou tomamos o curso da segregação”

Os direitos políticos também era perseguidos. Em 1950, com a “Lei de Supressão ao Comunismo”, o Partido Comunista da África do Sul foi banido e qualquer opinião contra o regime era tratada como sendo “comunismo”.

Em 1959 foi filmado um documentário antiapartheid chamado Come Back, Africa e Miriam Makeba compareceu à sua apresentação em Veneza. Bem recepcionada no exterior e temendo pelas condições que encontraria em seu regresso à África do Sul, resolveu não retornar. Em Londres conheceu Harry Belafonte, cantor jamaicano, que impulsionou a carreira de Makeba no exterior. Em 1966 ambos ganharam um Grammy na categoria folk pelo disco An Evening with Belafonte/Makeba. Nessa época conheceu o brasileiro Sivuca que foi o autor do arranjo de um dos maiores sucessos da Mama Africa: Pata Pata.

Diante do Comitê das Nações Unidas Contra o Apartheid, em 1963, testemunhou sobre as condições terríveis dos negros na África do Sul. Como resultado seus discos foram banidos da África do Sul e teve sua nacionalidade cassada.

A expressão Black Power foi usada com conotação política pela primeira vez em 1966. Durante um protesto contra o racismo, o ativista negro Stokely Carmichael foi detido pela vigésima sétima vez, afirmando que a única solução para o fim da segregação seria reivindicar definitivamente um “poder negro”.

A expressão Black Power foi usada com conotação política pela primeira vez em 1966. Durante um protesto contra o racismo, o ativista negro Stokely Carmichael foi detido pela vigésima sétima vez, afirmando que a única solução para o fim da segregação seria reivindicar definitivamente um “poder negro”.

Em 1968 casou-se com o militante do Partido dos Panteras Negras Stokely Carmichael. Como resultado teve canceladas suas apresentações artísticas e começou a ser perseguida dentro dos Estados Unidos. O casal então mudou-se para a Guiné, onde tornaram-se amigos do presidente Ahmed Sékou Touré, militante anticolonial que lutou pela independência da Guiné, conquistada em 1958.
Míriam participou, em 1975, das cerimônias de libertação de Moçambique, onde lançou a canção “A Luta Continua”, que virou um ícone da luta nas ex colônias portuguesas. Com refrão em português e ritmo africano, a canção acabou pegando naquele contexto de lutas pela independência em toda África. Nesta canção Makeba cita várias nações africanas que estavam em luta naquele momento, além da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e Samora Machel, líder da Guerra de Independência de Moçambique e presidente do país até 1986, quando o avião onde estava caiu em território sul africano, matando-o.

No final dos anos 80 a situação na África do Sul era péssima. O governo P. W. Botha perseguia o crescente número de opositores do regime. A violência e os abusos contra os negros atingiram limites intoleráveis o que culminou em uma guerra civil. Atacados pela maioria do povo e pela oposição, a minoria racista não teve como manter o apartheid. No início dos anos 90, com o fracasso do regime genocida do apartheid, a queda das leis de segregação racial e a liberação dos partidos políticos, Míriam retorna à África do Sul.